Procuro algumas letras no papel , mas só vejo o branco. Por trás das portas coloridas a ilusão da esperança, talvez algo surpreenda a monotonia da rotina, mas não dessa vez. Continuo lá sentado, parecendo mais distante do que o normal, fingindo pensamentos, como alguém que foi tomado pelo vazio. Nada se escuta, como se aquelas paredes me isolassem do mundo, e talvez fosse assim, mas não precisava de paredes ao meu redor. Ainda continuo lá, sentado, como alguém em estado de espera. O vazio permanece, ouço o som da chuva. Já estava na hora da minha companheira chegar, e com ela também a noite com sua fria beleza, com sua tristeza impressa na escuridão, como quem não quer aparecer mas, nunca se passa desapercebida. Sinto meus olhos umedecidos, e mais nada. O vento frio que sopra pela janela sem presa, trás consigo a estase. Só quero continuar aqui, sentado, e por alguns minutos, poder escutar e sentir algo além de mim.
Inspirada nas crônicas do Caio Fernando Abreu.